Amo-te Mamã*
Amei-te, amo-te e amar-te-ei.
No dia 21 de Setembro pelas 10h45 foi a primeira vez que nos vimos na vida terrena e foi amor à primeira vista. Olhamos um para o outro e soubemos no primeiro segundo em que respirei que era amor para a vida toda e é mesmo para a vida toda, mesmo para a vida depois da vida.
Uma das primeiras memórias. Tu, minha mãe, em casa, a cantares as músicas que eram tão especiais para ti e que te faziam sentir tão feliz. A tua luz e alegria iluminava tudo e todos. Para o meu olhar, duas pequeninas estrelas do enorme universo e para o meu coração ainda tão pequenino, só existias tu naquele momento, davas-me tanto amor sem pedir nada em troca que o meu coração ficava gigante.
Quem me ensinou a tabuada, os primeiros verbos e estava sempre junto a mim enquanto fazia os trabalhos de casa, eras tu. Se não estávamos juntos lá ia eu procurar por ti para estar ao teu lado. Só o poder estar junto de ti já era um privilégio que a vida me dava. Há tantas outras ocasiões e momentos em que rimos e chorámos juntos, umas vezes de alegria outras de tristeza, mas sempre estivemos juntos de mãos dadas.
A memória que tenho mais presente foram todas as noites em que o medo do escuro me assustava. Ficava com muito medo, mesmo com a luz de presença ligada, e tu lá estavas, junto a mim, encostada ao meu braço ou a mexer no meu cabelo até dormir. Às vezes, ainda estava meio acordado quando estavas a ir para a cama, chamava-te e lá estavas tu junto a mim, mesmo que no dia a seguir o alarme tocasse mais cedo.
Sempre foste a mãe guia, cuidadora, divertida, distraída, verdadeira, honesta, tão, mas tão doce, sempre com uma palavra cheia de amor, de carinho, não só para os filhos, mas para todos os que estavam à tua volta, até para com aqueles que algumas vezes foram menos corretos contigo. Nessas alturas, mostravas ter uma grandiosidade e uma luz imensa, de tão humilde que eras, não sei se algum dia vou ser capaz de o igualar. És tão, mas tão grande que não consigo descrever em palavras.
Foi contigo que aprendi a respeitar o próximo e a exigir respeito, Foi contigo que aprendi que só devemos estar com quem nos faz bem. Foi contigo que aprendi a não guardar rancores. Foi contigo que aprendi a ser o homem que sou hoje, a aceitar-me tal como sou, com princípios que me guiam e me vão guiar para sempre até estarmos novamente juntos cara a cara, olhos nos olhos.
No dia 18 de Janeiro de 2021 partiste para a vida depois da vida, mas eu não podia ter o coração mais cheio de amor e gratidão. Estiveste no meu primeiro sopro e eu estive no teu último sopro. Como sempre desejei, estivemos de mãos dadas até ao teu último suspiro, cantei as músicas que tanto gostavas e que tantas vezes cantavas e me encantavam. Tenho tanta gratidão por ter conseguido estar contigo até à tua partida, OBRIGADO.
Como tu me disseste nas últimas semanas, olhos nos olhos: "Onde tu estiveres, estou contigo e estou bem." Minha mãe, onde tu estiveres eu também estou contigo. Vamos voltar a estar juntos e a dar aquele abraço de que tanto gostamos.
Amei-te, Amo-te e Amar-te-ei para sempre minha mãe.
Até já mamã.
Do teu filho que tem um amor por ti sem tamanho um beijo do tamanho do universo.
Anjo da Guarda te acompanhe minha mãe.*
26.10.1937 - 18.01.2021