Em Março de 2020 refleti sobre como seria a casa pós covid, agora com a continuação da pandemia e um novo confinamento tenho mais algumas ideias de como será a casa pós covid. Vou dedicar algum tempo a aprofundar alguns dos temas que carecem de uma maior profundidade.
Vamos começar por rever o texto de Março de 2020.
Nesta altura o tempo dá-nos tempo para pensar em temas que vão estar em cima da mesa nos próximos tempos. Por exemplo, como vai ser a casa depois do COVID 19?
Durante o período de confinamento já começámos a viver a casa de uma maneira diferente. Estamos a dar mais uso a divisões que não eram utilizadas e a atribuir novas funcionalidades àquelas divisões que normalmente só tinham uma função. A sala de jantar, hoje, já não é só a sala de jantar, mas também pode ser a escola, durante o período de aulas, e à noite, a zona de trabalho do pai, da mãe ou de ambos. A sala de estar pode ser o ginásio dos adultos no período da manhã e à tarde o ginásio dos mais pequeninos. Vamos ter espaços mais abertos e informais onde vamos procurar ter uma decoração mais informal, descontraída e com facilidade de ser alterada em poucos minutos. Peças de mobiliário mais leves, de fácil arrumação e algumas, até com rodas, para que tudo possa ser movimentado com o maior conforto e rapidez.
Devido ao confinamento muitas pessoas necessitaram de espaços para estarem sozinhas, num momento de puro prazer individual, já que tantas horas e dias confinados com toda a família permitem picos de tensão e stress. A criação desses espaços, vão-se manter mesmo depois do COVID-19 e mesmo em divisões onde o espaço não é abundante. Algumas plantas em vários níveis de altura podem ser a solução para que possa ter aquele cantinho para descansar e para separar este espaço da outra zona da divisão.
A casa vai ficar mais inteligente para um maior numero de pessoas, com a utilização massiva da domótica. Há muito que explorar para que a casa esteja protegida da contaminação, cada vez mais instruções para que tudo ou quase tudo possa funcionar com ordem de voz, talvez até possamos vir a ter um controlador de temperatura à porta ou um kit de higienização automática na entrada de casa.
Um hábito cultural, há muito praticado na Ásia, chegou ao mundo ocidental e veio para ficar. Os sapatos deixados à entrada de casa, seja na própria ou na casa de amigos ou família vai ser uma pratica reiterada, em todos os estilos de casas. Nós, designers vamos ter que pensar em formas visualmente apelativas para termos todos os sapatos à entrada, sem parecer que estamos perante uma exposição de sapatos.
Outro hábito que vai fazer cada vez mais parte da vivência da casa é a criação de hortas. As hortas vão fazer parte dos jardins, quintais, terraços, varandas ou até mesmo do interior das casas, para onde já existem soluções perfeitas. Para quem não tem espaço, as hortas verticais vão ser a solução. Cada vez mais devemos ser auto-suficientes em tudo o que for possível. Plantas em casa também vão fazer cada vez mais parte da decoração de todas as divisões, criando uma sensação de contacto com a natureza mais próximo, humanizando cada vez mais os espaços.
Estes são alguns dos elementos ou hábitos que já mudaram em 2 meses e que vieram para ficar. Há outros hábitos e vivencias que se vão alterar. Só com o tempo vamos perceber aquilo que cada um de nós necessita e que pretende colocar dentro de casa. O caminho faz-se caminhando e é isso que devemos fazer, viver a vida, viver a casa que sempre foi, é e será sempre tão importante.
Agora posso acrescentar mais algumas ideias:
O hall de entrada ganhou uma importância ainda maior, há peças de mobiliário que não podem faltar, para alem da sapateira, para colocar os sapatos assim que chega da rua, deve ter um cabide para colocar os casacos, uma consola com um tabuleiro para colocar as chaves e as carteiras.
Tenha um pequeno caixote do lixo com um toque de design à entrada para colocar as mascaras, luvas e outros produtos "sujos". Na consola deve ter um recipiente com um toque giro sempre com gel para que depois de tudo colocado nos respetivos sítios possa desinfetar as mãos.
Quanto à construção, vamos apostar em processos mais simplificados de construção e mais baratos, para que todos possam ter direito à habitação, um direito que deveria ser universal, utilizando produtos na construção que derivam de reciclagem e reutilização.
A domótica já está à espera da inteligência artificial para que cada vez mais as casas nos possam ajudar a ter uma vida mais amiga do ambiente, com menos desperdício a todos os níveis, desde a água, passando pela informação da comida que está quase a passar de prazo. Vamos ter mobiliário inteligente, com características que permitem a sua adaptação por exemplo ao estado de espírito.
O higienizador do ar também vai ser cada vez mais uma presença dentro de casa. Deixa de ser um mero eletrodoméstico para ser uma verdadeira peça decorativa que se pode enquadrar em qualquer estilo de decoração. Vai ser um eletrodoméstico que vai estar em conexão com a casa inteligente que irá aferir a qualidade do ar e ligar o higienizador sempre que necessário.
A casa no seu todo vai ser um "cérebro" que nos vai ajudar a gerir a nossa vida e a vida de toda a família e contribui para o nosso bem estar. Vai permitir a gestão de agendas, de tarefas a fazer para cada um dos elementos da família, enfim uma panóplia de funções que nos vão permitir mais qualidade de vida, permitindo que nos foquemos no principal deixando o acessório para a nossa casa.
Estes são algumas linhas orientadoras dos vários caminhos que vamos seguir na casa da segunda década do século XXI. Que casa vamos ter na década de 20 do século XXI é uma pergunta que vou continuar a fazer a mim próprio.